INTRODUÇÃO
O tema e a Palavra-Chave do nosso estudo de
hoje é a humildade. Nesta lição, vamos analisar a narrativa do capítulo 13 do Evangelho de João.
Este episódio é conhecido
como “Lava-Pés”, onde Jesus
ensina, através do seu exemplo, a relevância da humildade para aqueles
que o seguem. Este capítulo nos ensina que a verdadeira grandeza do cristão
está no serviço humilde.
Os três tópicos desta lição
abordarão
1) O exemplo prático e histórico de humildade dado por
Cristo;
2) Fará a relação entre
humildade e autoconhecimento, reconhecendo os próprios limites;
3) Promoverá um contraste entre humildade e ostentação. Essa lição nos encoraja a refletir sobre como essa mensagem desafia nossa postura diante de Deus e do próximo, preparando os nossos corações para aprender e aplicar esse exemplo em nossas próprias vidas.
A) Objetivos da Lição:
Abordar o exemplo prático e histórico de
humildade dado por Cristo;
Correlacionar a humildade com o
autoconhecimento;
Promover contraste entre humildade e ostentação.
TEXTO ÁUREO
“Porque eu vos dei o exemplo,
para que, como eu vos fiz, façais vós também.” (Jo 13.15).
A palavra "exemplo"
vem do latim exemplum, que significa "modelo, padrão,
ilustração".
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - João
13.1-10.
1 — Ora, antes da
festa da Páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste
mundo para o Pai, como havia amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao
fim.
2 — E, acabada a
ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão,
que o traísse,
3 — Jesus, sabendo
que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de
Deus, e que ia para Deus,
4 — Levantou-se da
ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu-se.
5 — Depois, pôs água
numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxuga-los com a toalha
com que estava cingido.
6 — Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu
lavas-me os pés a mim?
7 — Respondeu Jesus e disse-lhe: O que eu faço, não o sabes tu,
agora, mas tu o saberás depois.
8 — Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus:
Se eu te não lavar, não tens parte comigo.
9 — Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também
as mãos e a cabeça.
10 — Disse-lhe
Jesus: Aquele que está
lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está
limpo. Ora, vós estais limpos, mas não todos.
I. UMA HISTÓRIA REAL SOBRE A HUMILDADE
1. O lava-pés. Nesta
passagem do Evangelho de João, quando Jesus lavou os pés dos Discípulos, Ele
utiliza o exemplo de um servo da casa para transmitir uma lição sobre a
humildade dentro do Reino de Deus. O capítulo menciona que este episódio
ocorreu pouco antes da Páscoa (13.1), quando Ele celebrou a última Ceia Pascal com os seus
discípulos. Nesta ceia, Jesus instituiu o que viria a
ser conhecido como Santa Ceia ou Ceia do Senhor, um encontro solene que
realizamos atualmente. Durante essa ocasião, Jesus rompeu o protocolo
tradicional da Ceia Pascal, conferindo-lhe um significado único: ao lavar os
pés dos seus discípulos, Ele ilustra a humildade como uma virtude essencial
para os seus seguidores na expansão da Igreja pelo mundo.
NOTA: O ato de lavar os pés tem raízes na
cultura judaica e no contexto do Oriente Médio antigo. Na tradição judaica, lavar os pés era um gesto de hospitalidade e respeito,
especialmente porque as pessoas costumavam caminhar longas distâncias em
terrenos poeirentos e arenosos. Quando um convidado
chegava a uma casa, era comum que o anfitrião providenciasse água para que ele
lavasse os pés, ou que um servo realizasse essa tarefa.
No relato bíblico do Lava-pés de
Cristo, Jesus lavou os pés dos discípulos durante a
Última Ceia, um gesto que surpreendeu seus seguidores porque era algo
normalmente feito por servos. Esse ato simbolizou humildade, serviço e amor ao próximo,
valores que já estavam presentes na tradição judaica, mas que Jesus enfatizou
de maneira ainda mais profunda.
Embora a
lavagem dos pés não fosse um ritual religioso formal no judaísmo, ela
carregava um significado de purificação e preparação para momentos importantes,
como estar na presença de Deus ou de pessoas de grande importância. Esse
simbolismo foi resgatado por Jesus para ensinar sobre humildade e serviço
mútuo.
No Antigo Testamento, vemos
referências à lavagem dos pés como um gesto de hospitalidade e respeito.
Por exemplo, quando Abraão
recebeu três visitantes em sua tenda, ele ofereceu água para que lavassem seus
pés (Gênesis 18:4). Da mesma forma, no livro de 1 Samuel, Abigail lava os pés dos
servos de Davi como um ato de humildade e submissão (1 Samuel 25:41).
Nos tempos
de Jesus, era comum que os anfitriões oferecessem água para os convidados, e em
casas de pessoas mais ricas, um servo realizava esse serviço. No
entanto, Jesus inverteu os papéis ao lavar os pés dos
discípulos, algo que normalmente seria feito por um subordinado.
Pedro quase recusou o Lava-pés
– Quando Jesus se ajoelhou para lavar os pés de seus discípulos, Pedro
inicialmente recusou, dizendo que isso não deveria acontecer (João 13:6-8).
Porém, quando Jesus explicou que esse gesto era necessário, Pedro mudou de
ideia e, empolgado, pediu que Jesus lavasse não apenas seus pés, mas também
suas mãos e cabeça! Isso mostra o impacto profundo do momento.
“Disse-lhe
Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não
lavar, não tens parte comigo.” (João 13: 8).
Hebraico
Transliterado: "Amar lo Kefa: Le'olam lo tirechabes et ragelai. Aná
lo Yeshua: Im lo achabes otach, ein lecha chelek imi."
"Disse-lhe
Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça."
(João 13: 9).
Hebraico
Transliterado: "Amar lo Shimón Kefa: Adoni, lo rak ragelai, ela gam
yadai ve-roshi."
O contraste com Judas – Jesus
lavou os pés de todos os discípulos, incluindo Judas, que já havia
decidido traí-lo. Esse detalhe é poderoso porque mostra
que o amor e a humildade de Jesus se estendiam até mesmo aos que iriam traí-lo.
2. O desenvolvimento da história. No
capítulo 13, o Mestre tomou uma bacia com água e uma toalha, levantou as pontas
das suas vestes e atou-as à cintura. Pegou nas mangas longas e largas das suas
roupas masculinas típicas da época e amarrou-as atrás do pescoço. Este gesto
era uma forma de “cingir-se” para realizar trabalho, permitindo que tivesse as
mãos e as pernas livres para realizar a tarefa do ato de “Lava-Pés”. Este
costume nos tempos bíblicos fazia parte dos cuidados prestados aos convidados
por parte do senhor da casa. Ao chegar à residência designada para a Ceia,
Jesus verificou que não havia nenhum servo disponível para lavar os pés dos
convivas.
3. A mudança de paradigma. Uma mudança de paradigma é uma transformação profunda
na maneira como se entende ou interpreta um conceito, uma ciência ou até mesmo
um modelo social.
NOTA: A palavra "paradigma" vem
do grego antigo παράδειγμα (parádeigma), que significa
"modelo, exemplo" ou "padrão".
Esse termo é formado por: "pará" (παρά) – que
indica proximidade, comparação
ou algo colocado ao lado; e "deigma" (δεῖγμα) –
que significa "amostra,
exemplo" ou "demonstração".
No latim, o termo foi adaptado para
"paradigma", mantendo a ideia de modelo ou referência.
Na filosofia e na ciência, "paradigma" passou a representar um
conjunto de conceitos ou padrões que orientam o pensamento dentro de uma área
específica
Como
anfitrião daquela ceia, após o encerramento dessa reunião única e
tradicional — surpreendendo os discípulos - Jesus
começou a ensinar através do Lava-Pés, que o caminho do Reino de Deus é
trilhado com humildade (Jo 13.2,4). Ele mostrou que a humildade
representa a verdadeira grandeza espiritual do seguidor do Evangelho. Por isso,
utilizou um gesto cotidiano para exemplificar esta atitude humilde. É evidente, neste episódio, que o Cristianismo só se tornará
eficaz e alcançará o propósito do Reino de Deus se os valores ensinados pelo
Mestre forem realmente praticados pelos seus seguidores. Entre esses
valores destaca-se a humildade genuína interiorizada nos corações dos
discípulos, recebendo especial atenção do divino Mestre, que era manso e
humilde de coração (Mt 11.29).
SINOPSE I
O exemplo histórico de humildade
que nosso Senhor deu aos discípulos é prático, atual e atemporal.
II. HUMILDADE IMPLICA AUTOCONHECIMENTO
1. Conhecendo a própria natureza. Conforme (Jo
13.3), Jesus tinha plena consciência de quem era, entendia o seu papel e a sua
relevância como Senhor e Mestre: “Jesus, sabendo que
o Pai tinha colocado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus,
e que ia para Deus” (Jo 13.3). Por isso, Ele deliberadamente trocou o seu papel de Senhor
pelo de um simples servo para ensinar aos seus discípulos a importância da
humildade. Dessa forma, é essencial que conheçamos a nossa natureza. Por causa do pecado, temos dificuldade de nos submetermos aos
outros e de nos humilharmos; frequentemente preferimos olhar de cima para
baixo, raramente de baixo para cima. Assim sendo, Jesus Cristo, na sua
posição de Senhor e Mestre, ensina-nos a virtude da humildade: “Eu vos dei o exemplo” (Jo
13.15).
2. O exemplo deixado por Jesus. Pense no Verbo Divino, repleto de glória e poder, que abdica
da sua majestade para vivenciar a experiência humana. Como menciona o
Evangelho: “não busco a minha vontade, mas a vontade
do Pai, que me enviou” (Jo 5.30). Assim sendo, Ele tornou-se carne e experimentou a nossa
condição. Esta compreensão doutrinária sobre a
encarnação de Jesus confere um significado ainda mais profundo ao episódio do
lava-pés, onde estava o Deus Encarnado lavando os pés de pessoas comuns.
À luz deste exemplo, não deveria ser tão difícil servir aos outros ou
submeter-nos à liderança dos nossos irmãos; desviar a nossa própria vontade em
favor da vontade divina deveria ser algo natural. No
entanto, a nossa natureza pecaminosa torna árdua a prática do serviço e o
cultivo da humildade. Por isso mesmo, o Apóstolo Paulo faz este apelo: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também
em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual
a Deus” (Fp 2.5,6).
3. O maior no Reino de Deus. O nosso Senhor percebia que existiam momentos em que os seus
discípulos se preocupavam com quem seria considerado o maior (Lc 22.25-27).
Contudo, Ele — sendo Deus
e não reivindicando igualdade com Deus (Fp 2.5) — ensinava aos
discípulos qual deveria ser o verdadeiro espírito entre eles; especialmente
após sua partida: no Reino de Deus prevalece sempre a
ideia de “o primeiro serve o último”. Portanto, no Reino de Deus deve
haver humildade como verdadeira motivação para o serviço; nunca egoísmo ou
interesses pessoais.
SINOPSE II
A virtude da humildade
possibilita-nos reconhecer as nossas limitações e, dessa forma, evitar a
armadilha da soberba.
III. HUMILDADE X OSTENTAÇÃO
1. Uma competição silenciosa. Jesus estava
ciente de que, entre os seus discípulos, existia uma
competição discreta em busca de proeminência e liderança, como é
retratado nos Evangelhos (Lc 9.46,47; Mc 9.34). Já
havia preocupações entre eles sobre quem ocuparia o lugar mais destacado num
eventual reino de Jesus. O que Jesus demonstra é que tal espírito não
deve prevalecer entre seus seguidores. Os líderes na causa do Mestre não podem
iniciar a sua jornada de forma errada.
2. O caminho humilde de Jesus.
NOTA: Jesus sofreu três
grandes humilhações:
Da Divindade para a humanidade
Da vida para a morte
Da Terra para o sheol/hades
E no episódio em estudo de Senhor pra servo.
Através do
episódio do lava-pés, Jesus revelou que o caminho dos seus discípulos não tem
como base a busca do sucesso material, notoriedade ou ambição, mas sim a
capacidade de servir o próximo de maneira humilde. Desta forma, a Igreja
de Cristo estaria em desacordo com a dinâmica mundana da ostentação e da
presunção. O serviço
amoroso e humilde é característico da Igreja de Cristo. Assim, não
haveria espaço para disputas,
a fama seria
deixada de lado e a ambição afastada. Por meio do exemplo modesto de Jesus no
episódio do lava-pés, as consciências dos discípulos foram despertadas (Jo
13.13,14).
3. Um convite à humildade. A vida e os ensinamentos do nosso Salvador constituem um
convite para aprendermos com Ele sobre mansidão e humildade (Mt 11.29). Nesse
sentido, somos convidados por Jesus a cultivar um coração humilde, desprovido
das armadilhas da ambição, da ostentação e do egoísmo.
Somos chamados a partilhar dos mesmos sentimentos que pautaram a sua vida e
ministério terreno (Fp 2.5-8). Assim sendo, a lição do
lava-pés é um apelo para vivermos uma existência de humildade diante de Deus em
todas as circunstâncias da vida.
NOTA: Ambição – Vem do latim ambitio,
o latim ambitio originalmente significava "ato de ir ao redor" ou "circundar".
Esse sentido vem do verbo ambire,
que significa "circular,
rodear". Na Roma Antiga, ambitio
estava ligado à prática dos políticos que percorriam as ruas buscando apoio
para suas candidaturas, o que gerou a ideia de "busca por reconhecimento
ou votos". Com o tempo, a palavra adquiriu um significado mais
amplo e passou a representar o
desejo intenso por sucesso, poder ou conquista—o que hoje chamamos de
"ambição".
Ostentação – Deriva do latim ostentatio,
que vem do verbo ostentare, significando "mostrar, exibir".
Inicialmente, tinha o sentido de demonstração evidente de algo, mas evoluiu
para significar exibição
exagerada de riqueza ou poder.
Egoísmo – Originado do latim ego, que
significa "eu", combinado ao sufixo - ismo, que indica doutrina ou
atitude. O termo passou a designar a atitude de priorizar excessivamente os próprios interesses,
sem considerar os outros.
SINOPSE III
A humildade não compete, ela
coopera; a humildade não busca notoriedade, ela busca o servir; a humildade não
obriga, ela convida.
VERDADE PRÁTICA
A submissão e o serviço são
características de maturidade e grandeza no percurso do crescimento espiritual
do cristão.
CONCLUSÃO
Nesta lição, abordamos a relevância da virtude da
humildade para um melhor autoconhecimento. Deste modo, começamos a perceber os
nossos limites e aquilo que nos diz respeito ou não. Compreendemos que a humildade se opõe a uma
cultura de ostentação, à busca desenfreada pela fama e a outros objetivos que
nada têm a ver com a simplicidade do Evangelho. Dessa forma, podemos
seguir o caminho humilde do nosso Senhor.
REVISANDO O CONTEÚDO
1. Segundo João 13,
como se manifestava o ato de “cingir-se”?
No capítulo 13, o Mestre tomou uma
bacia com água e uma toalha, levantou as pontas das suas vestes e atou-as à
cintura. Pegou nas mangas longas e largas das suas roupas masculinas típicas da
época e amarrou-as atrás do pescoço.
2. Conforme a lição, o
que a humildade representa?
A humildade representa a verdadeira
grandeza espiritual do seguidor do Evangelho.
3. Por qual razão Jesus
trocou os papéis de Senhor e Servo em João 13, segundo a lição?
Ele deliberadamente trocou o seu
papel de Senhor pelo de um simples servo para ensinar aos seus discípulos a
importância da humildade.
4. O que Jesus percebia
sobre os discípulos, conforme abordado na lição?
O nosso Senhor percebia que
existiam momentos em que os seus discípulos se preocupavam com quem seria
considerado o maior (Lc 22.25-27).
5. Para quê propósito a
vida e os ensinamentos de Jesus nos convidam?
A vida e os ensinamentos do nosso
Salvador constituem um convite para aprendermos com Ele sobre mansidão e
humildade (Mt 11.29).