Você já se perguntou por que diferentes versões bíblicas traduzem Mateus 6:31 de formas distintas? Será que há uma diferença prática entre "não vos inquieteis" e "não se preocupem"? Neste artigo, exploramos a etimologia das palavras em latim, grego e hebraico, revelando as nuances do verbo que expressa preocupação e ansiedade. Mais do que uma simples tradução, essas palavras nos conduzem a um entendimento mais profundo sobre a providência divina. Descubra o significado por trás de "YHWH Yireh", o Deus que vê e provê!
Mateus 6:31 e suas múltiplas traduções
Mateus 6:31 aparece em diferentes versões da Bíblia
com pequenas variações na escolha das palavras. Algumas traduções usam "não
vos inquieteis", enquanto outras adotam "não se
preocupem". A diferença pode parecer sutil, mas carrega um impacto na
forma como interpretamos o ensinamento de Jesus.
Na versão ARC temos:
Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos ou
com que nos vestiremos? (Mateus 6:31 Almeida Revista e Corrigida (ARC)
Na Almeida Revista e
Atualizada (ARA):
Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que
beberemos? Ou: Com que nos vestiremos?
Na Nova Versão
Internacional - Português (NVI)
Portanto, não se preocupem, dizendo: “O que comeremos?”, “O que
beberemos?” ou “O que vestiremos?”.
Na Bíblia Sagrada,
Nova Versão Transformadora (NVT)
“Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘O que vamos comer? O que
vamos beber? O que vamos vestir?’.
Na Nova Bíblia Viva
Português (NBV-P)
“Portanto não se preocupem de forma alguma com a necessidade de
comida ou bebida ou com a roupa.
Na Nova Almeida
Atualizada (NAA)
Portanto, não se preocupem, dizendo: “Que comeremos?”, “Que
beberemos?” ou “Com que nos vestiremos?”
Na Nova Tradução na
Linguagem de Hoje (NTLH)
Avaliando a Etimologia
Latim: O peso da inquietação
Na Vulgata Latina, encontramos o versículo de
Mateus 6:31 assim:
"Nolite ergo solliciti esse
dicentes: Quid manducabimus, aut quid bibemus, aut quo operiemur?"
Portanto, não vos inquieteis,
dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos?
O termo "solliciti" vem do latim sollicitus,
que significa ansioso, inquieto, preocupado. É interessante notar que
essa palavra expressa um estado de preocupação intensa, muitas vezes
ligado à angústia interna.
O termo "solliciti"
corresponde ao verbo grego "μεριμνάω" (merimnáō), que
significa "estar ansioso" ou "preocupar-se". Assim como no
grego, a construção latina enfatiza a ideia de não viver em estado de
preocupação excessiva com as necessidades materiais, mas confiar na
providência divina.
Grego: A divisão da mente
No grego koiné, língua original do Novo Testamento,
Mateus 6:31 aparece assim:
Grego: Μὴ
οὖν μεριμνήσητε λέγοντες· Τί φάγωμεν ἤ τί πίωμεν ἤ τί περιβαλώμεθα;
Transliteração: Mē
oun merimnēsēte legontes: Ti phagōmen ē ti piōmen ē ti peribalōmetha?
31Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos ou
com que nos vestiremos? Almeida Revista e Corrigida (ARC)
No contexto bíblico, a
palavra traduzida como "solícitos"
é o termo grego merimnáo
(μεριμνάω), que significa “estar ansioso, preocupado excessivamente".
A raiz desse termo está ligada à ideia de divisão da
mente, ou seja, uma preocupação que fragmenta o pensamento e impede a confiança
plena.
A estrutura do versículo em
Mateus 6:31, com "μη οὖν μεριμνήσητε" (mē oun merimnēsēte),
reflete o comando/ordem de Jesus para não se preocupar com necessidades
materiais.
Hebraico: A visão que provê
Em hebraico, podemos expressar o versículo assim:
לֹא תִדְאֲגוּ לֵאמֹר מָה נֹאכַל אוֹ מָה נִשְׁתֶּה אוֹ מָה
נִלְבָּשׁ
(Lo tid'agu le'emor ma no'khal o ma nishteh o ma nilbash)
O Evangelho de Mateus foi originalmente escrito em grego
koiné, que era a língua franca do Império Romano no século I. então vale a pena
uma investigação no hebraico.
Porém, não há manuscritos
originais em hebraico ou aramaico, apenas cópias em grego, o que sugere que a versão grega foi a que se
disseminou amplamente entre os primeiros cristãos.
Em hebraico bíblico o
versículo é assim: לֹא תִדְאֲגוּ לֵאמֹר מָה נֹאכַל
אוֹ מָה נִשְׁתֶּה אוֹ מָה נִלְבָּשׁ
E essa é a transliteração: Lo tid'agu le'emor ma no'khal o ma nishteh
o ma nilbash
No hebraico bíblico,
a ideia de preocupação ou ansiedade pode ser expressa por palavras como דְּאָגָה (de'agah), que
significa "preocupação,
ansiedade" ou "ter
medo". O verbo דָּאַג (da'ag)
transmite a ideia de estar inquieto ou preocupado com algo.
Mateus 6: 31, então, nos
convida a não viver em constante preocupação com as necessidades materiais, mas
a confiar na provisão divina.
Confie Ele é YHWH YIR EH
A expressão "Deus da
providência" pode ser traduzida para o hebraico como יְהוָֹה יִרְאֶה (YHWH YIREH),
que significa "O Senhor proverá". Essa expressão tem origem na
história de Abraão e Isaque em Gênesis 22, onde Deus providencia um cordeiro
para o sacrifício no lugar de Isaque.
Yireh (יִרְאֶה) está dentro do campo semântico de ra'ah (ראה),
e ambas as palavras derivam da raiz ראה (ra'ah), que significa
"ver" ou "perceber".
O que nos leva à
reflexão de que a providência divina está ligada à onisciência de Deus
- Ele vê e conhece as necessidades dos seus antes mesmo de pedirmos.
Esse verbo
hebraico ראה (ra'ah) significa "ver" ou "perceber" e é
amplamente utilizado na Bíblia para descrever tanto a visão física quanto a
compreensão espiritual ou profética. Em muitos contextos, ra'ah está ligado à ideia
de discernimento e à capacidade divina de observar e prover.
No entanto, há uma diferença leve que indica uma pequena variação entre
esses conceitos similares: no contexto teológico enquanto ra'ah é
simplesmente o verbo "ver", Yireh (יִרְאֶה)
está no tempo futuro e significa "ele verá" ou "ele
proverá". Por isso, quando encontramos YHWH Yireh (יְהוָֹה
יִרְאֶה) na narrativa de Gênesis 22:14, a ideia não é apenas de visão, mas
também de providência divina, ou seja, Deus vê e, ao ver, cuida e provê.
Isso mostra como,
no hebraico bíblico, a visão está intrinsecamente ligada à ação e à
providência.
Há uma nuance interessante
entre as traduções "não vos inquieteis" e "não se
preocupem" em Mateus 6:31.
A expressão "não vos inquieteis" é mais
formal e remete a um estado de inquietação profunda, quase uma angústia.
Essa tradução, encontrada em versões mais antigas como a Almeida Revista e
Corrigida, carrega um tom mais solene e enfatiza uma preocupação que
perturba o coração e a mente.
Já "não se
preocupem", presente em versões mais modernas como a Nova Versão
Internacional (NVI), tem um tom mais acessível e cotidiano. Essa tradução foca na ideia de
preocupação comum do dia a dia.
Ambas as traduções captam a
essência do ensinamento de Jesus: não viver ansioso pelas necessidades
materiais, mas confiar na provisão divina. No entanto, a escolha das
palavras pode influenciar a forma como o leitor percebe a intensidade da
preocupação mencionada no texto.
Conclusão: O chamado à confiança
Mateus 6:31 nos convida a abandonar a ansiedade e
confiar na provisão divina. Cada idioma traz uma nuance especial que aprofunda
nosso entendimento da mensagem de Jesus. Seja através do solicitus do
latim, do merimnáō do grego ou do da'ag do hebraico, a lição
permanece: não viva em inquietação, mas confie plenamente em Deus.