INTRODUÇÃO
Nesta lição, vamos explorar João 17
e a oração sacerdotal de Jesus. Este capítulo descreve a oração mais significativa de Jesus, feita em
benefício de si mesmo, pela sua glorificação, bem como dos seus discípulos e
dos cristãos que viriam a crer Nele num futuro próximo. A oração sacerdotal de Jesus traz uma importante lição
sobre a unidade do povo de Deus no seu Reino e o propósito de promover o
Evangelho de Jesus no mundo.
Para aprofundar esse entendimento a lição está organizada da seguinte maneira: 1) a oração de Jesus pela sua glorificação, que se refere à sua missão redentora; 2) a oração pelos discípulos para que sejam protegidos e santificados; 3) e a oração por aqueles que futuramente creriam Nele, evidenciando sua perspectiva eterna e inclusiva sobre o Reino de Deus.
Palavra-Chave: INTERCESSÃO
Objetivos da Lição:
Meditar sobre a oração de Jesus pela sua
glorificação, que se refere à sua missão redentora;
Examinar a oração pelos discípulos para que
sejam protegidos e santificados;
Mostrar a oração por aqueles que futuramente
creriam, evidenciando sua perspectiva eterna e inclusiva sobre o Reino de Deus.
TEXTO ÁUREO
“E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por
único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” (Jo 17.3).
áfti dé
estin i aiónios zoí, ína ginóskosi sé, tón mónon alithinón theón, kaí ón
apésteilas, Iisoún Christón.
Grego Bíblico:
αὕτη δέ ἐστιν ἡ αἰώνιος ζωὴ ἵνα γινώσκωσι σὲ τὸν μόνον ἀληθινὸν θεὸν καὶ ὃν ἀπέστειλας
Ἰησοῦν Χριστόν.
Transliteração:
hautē de estin hē aiōnios zōē hina ginōskōsi se ton monon alēthinon theon kai
hon apesteilas Iēsoun Christon.
NOTA: Exegese do Versículo
Este
versículo faz parte da oração sacerdotal de Jesus, onde Ele intercede pelos
discípulos e por todos os que crerão nEle.
Temos 4 elementos-chave nesse texto:
- αἰώνιος ζωὴ (aiōnios zōē) – "vida
eterna"
- No contexto bíblico, "vida eterna" não se refere apenas à
duração infinita, mas à qualidade de vida em comunhão com Deus.
- A
ideia de vida eterna está ligada ao conhecimento de Deus e de Cristo,
indicando que a verdadeira vida transcende a existência terrena.
- γινώσκωσι (ginōskōsi) – "conheçam"
- O
verbo "ginōskō" no grego implica um conhecimento profundo e
relacional, não apenas intelectual.
- Conhecer
Deus e Cristo significa ter uma experiência real e transformadora com Eles.
- τὸν μόνον ἀληθινὸν θεὸν (ton monon alēthinon
theon) – "o único Deus verdadeiro"
- Jesus
enfatiza a exclusividade de Deus como o único verdadeiro,
contrastando com os deuses falsos.
- Isso
reforça a monoteísmo bíblico e a centralidade de Deus na salvação.
- ὃν ἀπέστειλας Ἰησοῦν Χριστόν (hon apesteilas
Iēsoun Christon) – "a quem enviaste, Jesus Cristo"
- A missão de Jesus é destacada: Ele foi enviado pelo Pai
para revelar Deus e trazer salvação.
- O título "Cristo" (Messias) reforça Seu
papel redentor.
Este versículo ensina que a vida eterna não é apenas um destino futuro, mas uma realidade presente para aqueles que conhecem e vivem em comunhão com Deus por meio de Cristo.
NOTA: A palavra Cristo tem origem no grego Χριστός (Christós),
que significa "Ungido". Esse termo foi utilizado na
tradução da Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento) para substituir o hebraico מָשִׁיחַ
(Mashiach), que também significa "Ungido". Jesus é "Yeshua
Mashiach Adoneinu" "Jesus o Messias, nosso Senhor".
Mashiach, do hebraico, é a palavra que originou o termo Messias em português. Na tradição judaica, refere-se ao líder ungido por Deus que traria redenção ao povo. No cristianismo, Jesus é identificado como o Cristo, ou seja, o Messias prometido.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - João 17.1-3,11-17.
1 — Jesus falou essas coisas e, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti,
2 — assim como lhe
deste poder sobre toda carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe
deste.
3 — E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus
verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste.
11 — E eu já não
estou mais no mundo; mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo,
guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós.
12 — Estando eu com
eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste,
e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se
cumprisse.
13 — Mas, agora, vou
para ti e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si
mesmos.
14 — Dei-lhes a tua
palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do
mundo.
15 — Não peço que os
tires do mundo, mas que os livres do mal.
16 — Não são do
mundo, como eu do mundo não sou.
17 — Santifica-os na
verdade; a tua palavra é a verdade.
I. A ORAÇÃO DE JESUS E SUA GLORIFICAÇÃO
1. A oração de Jesus. Entre todas as orações do Senhor documentadas nos Evangelhos, é indiscutível que foi João quem relatou a mais elevada (17.1-26). No início de João 17.1 está escrito: “Jesus falou essas coisas”. Essa frase remete ao discurso do Senhor sobre a vinda do Espírito como Consolador, conforme estudado na lição anterior (Jo 16.13). Certamente o local onde o Senhor se encontrava era o mesmo em que partilhou a Última Ceia com seus discípulos. A oração de Jesus no capítulo 17, é referida como “A Oração Intercessória”, “A Oração Sacerdotal de Jesus” ou “A Oração da Consagração”. Podemos dividir essa oração em, pelo menos, três partes: Ele orou por si mesmo (Jo 17.1-8), intercedeu pelos seus discípulos (Jo 17.9-19) e, também, fez uma oração pela Igreja futura (Jo 17.20-26).
2. A oração de Jesus pela sua glorificação.
Na oração de Jesus pedindo por sua “glorificação” havia um significado espiritual mais profundo, que não se tratava de um ato egoísta. Como já abordamos, Ele estava plenamente ciente de seu ministério e, portanto, da finalidade de sua missão na Terra. Assim, em sua conversa direta com o Pai, Jesus declara que “é chegada a hora”, referindo-se ao momento em que o Pai o glorificaria por meio de seu sacrifício redentor no Calvário. Nosso Senhor expressa: “glorifica a teu Filho para que também o teu Filho te glorifique a ti” (Jo 17.1). Que tipo de glorificação seria essa? Mediante a sua morte, o mundo o conheceria e a vida eterna seria oferecida a todos que o aceitassem como Salvador de suas vidas. Glorificar alguém significa torná-lo conhecido. Jesus seria reconhecido como “o Filho de Deus, o Salvador do mundo” (Jo 17.3,4).
3. A mesma glória com o Pai. No versículo 5 está escrito: “E, agora, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse”. Essa glória se relaciona com a divindade de Jesus como o Verbo Divino existente antes da sua encarnação. Na realidade, o que Jesus solicita é a glorificação mútua entre o Filho e o Pai (v.5). Somente nosso Senhor, o Filho de Deus, poderia fazer tal pedido por essa glorificação, uma honra que Ele possuía “antes que o mundo existisse”. Essa declaração evidencia a divindade de Jesus, ao revelá-lo como um com o Pai (Jo 17.11,21,24). Assim, com base nessa igualdade com o Pai, o pecador que confessa e se arrepende de seus pecados recebe a vida eterna e conhece, pela fé, “o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3).
SINOPSE I
A oração de Jesus demonstra o seu desejo em glorificar o Pai e reafirmar a glória que compartilha com Ele desde toda a eternidade.
AUXÍLIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
A ORAÇÃO POR SI MESMO
Há quatro coisas específicas que Jesus
realizou e que Ele menciona na sua oração:
1.
Eu glorifiquei-te na terra (4). Ele teve uma glória com o Pai antes que o
mundo existisse e Ele antevia que isto seria restaurado. Glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti
mesmo (5; cf.
24).
2. Tendo consumado a obra que me deste
a fazer (4).
O verbo grego para consumar
é teleiosas,
que significa ‘completar,
trazer ao final, terminar, realizar... trazer ao objetivo ou à realização,
no sentido de superação ou suplantação de um estado imperfeito de coisas por
alguém que está livre de objeções’. A obra é a redenção do homem, e está consumada da
maneira mais perfeita (cf. 19.30).
NOTA: A palavra grega τελειώσας (teleiósas)
é uma forma do verbo
τελειόω (teleióō), que significa "completar", "aperfeiçoar" ou
"finalizar".
Ela está relacionada à ideia de
cumprir um propósito ou alcançar um estado de perfeição. No contexto bíblico, muitas vezes é usada para descrever
a maturidade espiritual ou a conclusão de uma missão divina.
Por exemplo, em
João 19:30, Jesus declara "Tetelestai"
(Τετέλεσται), que é uma forma relacionada ao mesmo verbo, significando "Está consumado",
indicando que sua obra redentora foi completada.
E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E,
inclinando a cabeça, entregou o espírito. (João 19:30)
óte oún élaven tó óxos o Iisoús eípen: Tetélestai, kaí klínas tín kefalín parédoken tó pnevma.
3. Manifestei o teu nome aos homens que do mundo
me deste (6). A palavra grega para manifestar é ephanerosa, que
significa ‘tornar
conhecido pelas palavras transmitidas... embora aqui o ensino seja
acompanhado por uma revelação que vem da obra’. Na adoração judaica, era
proibido pronunciar o nome de Jeová (Yahweh). Mas agora o nome Pai tornou-se
conhecido e os homens ‘já não precisam ter medo de pronunciar o nome sagrado’.
4. Eu lhes dei as palavras que me deste (8). Jesus, a eterna Palavra viva, deu aos homens as palavras de Deus, e eles a receberam. Disto vem o conhecimento — os homens têm conhecido a verdadeira natureza [de Jesus]; saí de ti/veio de Deus - e creram na sua missão; que me enviaste (8; cf. 18,21,23,25).
II. A ORAÇÃO DE JESUS PELOS DISCÍPULOS
1. Intercessão pela proteção dos discípulos. Nos versículos 4 a 8, exceto o versículo 5, Jesus ora como se estivesse apresentando um relato ao Pai sobre tudo o que realizou durante seu ministério na Terra. No versículo 6, Ele intercede por seus discípulos e pela unidade entre eles, uma vez que seriam os responsáveis por continuar a obra que Jesus havia iniciado. Jesus se refere aos discípulos como “homens que do mundo me deste” (v.6). O Redentor revela que seus discípulos pertenciam ao Pai e que Este os entregou a Ele: “Eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra” (Jo 17.6b). Ao longo de quase quatro anos, Jesus investiu nesses homens, que se mostraram fiéis, prontos para prosseguir com a missão de evangelização.
2. Os discípulos receberam a Palavra. Apesar de, em certas ocasiões, os discípulos terem
encontrado dificuldades para compreender completamente os ensinamentos de Jesus,
as suas recordações foram reavivadas pelo Espírito Santo quando receberam o
poder no dia de Pentecostes, permitindo-lhes assim entender e difundir o que aprenderam com o Mestre (At 2.14-36).
No versículo 6, Jesus referiu-se ao Pai afirmando que os seus discípulos
mantiveram a mensagem recebida: “E guardaram a tua Palavra”. Ao vivermos conforme a Palavra de
Deus, aceitando e obedecendo aos ensinamentos de Cristo, podemos testemunhar o
Evangelho com credibilidade.
3. Protegidos do mundo. O versículo 14
afirma: “Dei-lhes a tua
palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do
mundo”. É importante prestar atenção ao termo “mundo”. Este pode referir-se ao “universo criado” (Jo 17.5) ou à
humanidade (Jo 3.16). No entanto, aqui Jesus se refere ao sistema
espiritual governado por Satanás (Jo 17.14). O apóstolo Paulo descreve esse
“mundo” como um governo espiritual maligno (Ef 2.2). Por conseguinte, o nosso
Senhor deseja que o Pai guarde os seus discípulos desse sistema mundano, que é
incompatível com o Evangelho, sob a influência do “príncipe deste mundo” (Jo
12.31; 14.30; 16.11).
NOTA: A palavra grega para "mundo" é κόσμος (kósmos).
No grego antigo, κόσμος (kósmos) não se referia apenas ao
planeta Terra, mas também à ordem, harmonia e beleza do universo. Os
filósofos gregos, como Platão e Aristóteles, usavam esse termo para descrever
um sistema organizado e estruturado.
Além disso, κόσμος (kósmos) também pode significar "ornamento" ou "decoração", refletindo a ideia de algo bem arranjado e harmonioso. No Novo Testamento, essa palavra é frequentemente usada para se referir à humanidade e ao sistema mundano.
SINOPSE II
Jesus pediu a proteção para os
seus discípulos, que acolheram a Palavra e necessitavam ser guardados do mal
que existe no mundo
III. A ORAÇÃO DE JESUS PELOS QUE VIRIAM A CRER
1. Oração pela unidade da Igreja. Nesta
terceira parte de sua súplica, Jesus pediu pela unidade da Igreja. Mais do que uma unidade de
natureza eclesiástica ou orgânica, Jesus intercedeu pela harmonia espiritual do
seu povo. Nosso Senhor ansiava por uma união genuína, tal como a que
existe entre Ele e o Pai. Essa foi a súplica do nosso Senhor: “para que todos
sejam um, assim como tu, ó Pai, estás em mim, e eu em ti” (Jo 17.21).
2. Propósito da unidade. O propósito da unidade espiritual da Igreja, é que “o mundo creia que tu me enviaste” (v.21). Assim, a Igreja revela essa unidade espiritual com Cristo por pelo menos quatro motivos: (1) união essencial dos salvos como membros do Corpo de Cristo (1Co 12.12); (2) união essencial dos salvos promovida pelo conhecimento crescente sobre Jesus Cristo (2Pe 3.18); (3) união essencial dos salvos no desenvolvimento do Fruto do Espírito (Gl 5.22,23); (4) união essencial dos salvos manifestada na glória como filhos de Deus e detentores da vida eterna (Jo 17.22).
3. Oração por encorajamento à unidade. Em
João 17.21,22, o nosso Senhor roga para que os discípulos sejam incentivados a
manter a unidade com Ele. A
crença em Cristo como o único e suficiente Salvador é a principal razão da
unidade cristã, de modo que os discípulos sejam encorajados a promover
esse testemunho no mundo. Assim, sem essa unidade de fé, o testemunho perde
completamente a sua credibilidade.
NOTA: No contexto da oração de Jesus, "unidade" não é apenas uma conexão institucional ou física, mas uma harmonia espiritual profunda entre os seus seguidores.
Uma definição prática de unidade aqui seria:
Comunhão genuína – Estar ligados por fé, amor e propósito,
independentemente de diferenças externas.
Sintonia espiritual – Viver em paz e cooperação, refletindo o caráter de
Cristo.
Testemunho coletivo – Demonstrar ao mundo a presença de Deus através da
união dos crentes.
Essa unidade não significa uniformidade absoluta, mas um vínculo espiritual, onde a diversidade se une em um propósito maior: glorificar a Deus e viver de acordo com os ensinamentos de Cristo.
SINOPSE III
Jesus fez uma oração pela
unidade da Igreja, promovendo a comunhão entre aqueles que viriam a crer.
VERDADE PRÁTICA
A oração que Jesus fez ao Pai em favor de si próprio, dos seus discípulos e da sua Igreja ressoa ainda nos dias atuais.
CONCLUSÃO
É extraordinário perceber que a oração sacerdotal de Jesus Cristo continua a ressoar nos dias atuais. Fazemos parte do Corpo de Cristo e esse privilégio deve manter-nos cientes da nossa função no Reino de Deus. Por isso, temos a responsabilidade de nos apresentar entusiasmados para testemunhar com coragem o Evangelho, revelando a obra que o Senhor Jesus realizou no Calvário.
REVISANDO O CONTEÚDO
1. Em quais partes
podemos apresentar a oração sacerdotal de Jesus?
Nosso Senhor apresentou essa oração em, pelo menos, três partes: Ele orou por si mesmo (Jo 17.1-8), intercedeu pelos seus discípulos (Jo 17.9-19) e, também, fez uma oração pela Igreja futura (Jo 17.20-26).
2. A que se relaciona a
menção à glória no versículo 5?
Essa referência à glória se relaciona à divindade do nosso Senhor como o Verbo Divino, antes da sua encarnação.
3. De que forma Jesus
dirige a sua oração ao Pai nos versículos 4 a 8?
Nos versículos 4 a 8, exceto o versículo 5, Jesus ora como se estivesse apresentando um relato ao Pai sobre tudo o que realizou durante seu ministério na Terra.
4. A que “Mundo” se
refere Jesus em João 17.14?
Jesus se refere ao sistema espiritual governado por Satanás (Jo 17.14).
5. Indique pelo menos
dois motivos que evidenciam a unidade espiritual dos salvos com Cristo.
(1) união essencial dos salvos como
membros do Corpo de Cristo (1Co 12.12); (2) união essencial dos salvos
promovida pelo conhecimento crescente sobre Jesus Cristo (1Pe 3.18).