Oito tipos de amor em grego

Resumo

A língua grega é uma língua de vocábulos conceituais. O termo “conceito” significa “conter completamente”, “formar dentro de si”. Um conceito é aquilo que a mente concebe ou entende, é uma ideia ou noção, de uma realidade.

Tendo em vista que o grego é uma língua conceitual, no grego antigo, nós encontramos várias palavras para descrever o amor.

 

Introdução

O amor é um sentimento universal, mas a maneira como o experimentamos e expressamos pode variar muito. 

Existem pelo menos oito tipos de palavras em grego para definir amor: Eros, Storge, Philos, Pragma, Ludus, Mania, Philautia e Agápe.

 

Eros (ἔρως)

Este é o amor que muitas vezes vem à mente primeiro quando pensamos na palavra “amor”. Eros é o amor apaixonado, o amor romântico, o amor que inclui atração física e desejo sexual. 

É o tipo de amor que muitas vezes começa um relacionamento. No entanto, eros não precisa ser puramente sexual. Pode ser uma apreciação da beleza dentro de uma pessoa ou até mesmo uma apreciação da beleza em si.

Philia (φιλία): O Amor da Amizade

Philia é uma das quatro palavras gregas antigas para amor. Significa amizade íntima ou amor fraterno. É o tipo de amor que envolve amizade e afeto.

Philia é o tipo de amor que você sente por alguém com quem compartilha interesses comuns, passa tempo junto e confia.

Philia pode ser muito gratificante e, embora não tenha a intensidade do eros, muitas vezes é mais duradouro. Philia apesar de ser o amor da amizade não se limita apenas a relacionamentos não sexuais e não românticos, mas é um componente vital de (eros) o amor romântico entre casais, pois qualquer conexão amorosa sem ele/amizade provavelmente não durará.

Este termo grego para amor implica conexão espiritual, confiança e compartilhamento dos mesmos valores, por isso Philia geralmente cresce entre amigos ou membros da família.

 

Storge (στοργή)

Storge é o amor familiar e o que mais se aproxima do amor Deus, por ser desinteressado e muitas vezes sacrificial. É o tipo de amor que os pais sentem pelos filhos e vice-versa.

Storge é caracterizado por um profundo sentimento de lealdade, sacrifício e aceitação incondicional. O amor Storge é caracterizado por ser um amor natural e não forçado, que se baseia na familiaridade e na proximidade.

Esse termo é usado no cristianismo para significar o amor da família.

O Enhancing Strong’s Lexicon define storge como “acalentando os parentes, especialmente pais ou filhos; o amor mútuo de pais e filhos e esposa e marido; afeição amorosa; propenso a amar; amando ternamente; principalmente da ternura recíproca de pais e filhos”.

O amor Storge é caracterizado por sentimentos de cuidado, carinho, e apego emocional. É incondicional e transcende falhas e imperfeições. No cerne deste amor, encontra-se a preocupação genuína com o bem-estar do outro e o desejo de proteger aqueles a quem amamos.

Embora a palavra “storge” nunca apareça na Bíblia, o conceito está lá. Storge é baseado na familiaridade. Uma pessoa amará sua família, independentemente de serem pessoas pelas quais se sinta atraída. Os membros da família muitas vezes não têm nada em comum, exceto familiaridade e sangue, e mesmo assim se amam.

 

Pragma (πρᾶγμα)

Pragma é o amor duradouro que se desenvolve entre os casais ao longo do tempo e os mantém juntos através dos altos e baixos da vida. Pragma envolve compromisso, compreensão e paciência.

O amor Pragma (πρᾶγμα) é um tipo de amor que é baseado na dedicação ao bem maior. É um amor muito racional que resulta de relações equilibradas e estáveis. Embora possa parecer frio e vazio de sentimentos no início, sentimentos intensos podem se desenvolver com o tempo.

Em um amor pragmático, o romance e a atração são muitas vezes separados em favor de metas compartilhadas e compatibilidades. Este tipo de amor é muitas vezes visto em casais que se formaram a partir de um casamento arranjado ou aliança política.

Pragma é também aquele tipo de amor que inspira os casais a fazerem o seu relacionamento funcionar por causa dos filhos.

Esse tipo de amor implica compromisso e nos leva a fazer a coisa certa. Muitos relacionamentos começam com Eros ou Ludos e mais tarde evoluem para Pragma, quando essas formas mais simples de amor não são suficientes para sustentar a união do casal.

 

Xênia ξενία - o amor da hospitalidade

Xênia é a palavra grega que significa “hospitalidade, hospitaleira”, e define uma “atitude carinhosa para com os convidados”. Xênia é o amor da hospitalidade tão valorizado na Bíblia, como  se vê em Hebreus 13:2 (ARC) “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque, por ela, alguns, não o sabendo, hospedaram anjos”, e em outras referências:

Romanos 12:13 (ARC)

Tito 1:8 (ARC)

1Timóteo 5:10 (ARC)

1Pedro 4:9 (ARC)

3João 1:8 (ARC)

Mateus 25:43 (ARC)

Romanos 16:23 (ARC)

1Reis 13:18 (ARC)

2Reis 4:13 (ARC)

3João 1:10 (ARC)

Ludus (Παιχνίδια)

Ludus é o amor brincalhão, não comprometido que normalmente é visto no início dos relacionamentos românticos, quando tudo é novo e excitante. Ludus fala de diversão e espontaneidade.

Este é o tipo de amor que podemos sentir quando dançamos com um estranho ou namoramos com um colega de classe. Em contraste com a profunda dedicação que caracteriza o amor pragmático, o único objetivo compartilhado de Ludus é o prazer. Ludus é divertido, mas não duradouro. Com o tempo, ou desaparece ou cresce para Eros ou Philia.

 

Mania (μανία)

Mania é um tipo de amor obsessivo, possessivo que pode levar a ciúmes extremos e comportamento controlador. Mania muitas vezes envolve altos níveis de emoção descontrolada e conflito.

Esse é um tipo de amor cuja maior característica é o desequilíbrio emocional. Este tipo de amor geralmente surge em pessoas com baixa autoestima que precisam se sentir amadas.

É comum em relacionamentos tóxicos ou codependentes, onde geralmente há um desequilíbrio de afeto que faz com que uma pessoa se torne excessivamente apegada a outra.

Mania nem amor “por assim dizer”, é um sentimento de posse, ansiedade e desejo de manipulação da outra pessoa.

Mesmo que “mania” realmente não pareça “amor”, os gregos tinham uma palavra para esse tipo de amor "obsessivo".

 

Philautia (φιλαυτία)

Philautia é o amor próprio. É um tipo de amor que pode ser saudável, pois ter amor por si mesmo, ter autoestima e cuidar de si é inclusive bíblico, já a Bíblia diz que “temos que amar o próximo como a nós mesmos. Logo, se não nos amamos, não amamos ninguém. Mas Philautia também pode ser insalubre, se se tornar num amor narcisista ou de auto-obsessão.

Em Philautia é onde todo amor começa, pois quando nosso relacionamento com nós mesmos é forte, todos os outros amores em nossa vida parecem se encaixar.

Philautia vem em duas formas: uma é uma espécie de falso amor-próprio, semelhante à arrogância que pode ser chamado de narcisismo e a autoestima, que é a confiança e um compromisso de cuidar de nós mesmos.

Narcisismo envolve um gosto pelo dinheiro, fama e poder. Esse tipo de amor próprio é definido por uma inclinação para colocar-se diante do bem maior.

Em contraste, uma saudável Philautia é caracterizada pela autoestima, confiança e um compromisso de cuidar de nós mesmos e dos outros. Isso nos permite direcionar o amor que temos por nós mesmos ao mundo que nos rodeia. Esse comportamento cumpre bem o que Jesus disse: “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22, 37-39).

 

Agápe (ἀγάπη)

Dentre todos os tipos de amor agápe é o tipo incondicional, é a caridade em si. É o tipo de amor que você sente por todos os seres humanos, ou até mesmo por toda a vida ou existência.

Agápe é o "amor de Deus", caracterizado como incondicional e perfeito. Este é o amor que temos primeiro por nós mesmos (nos amamos sem exigir condições) e pelos outros, independentemente de quem eles sejam ou do que tenham feito.

Segundo a Bíblia é um amor que “não busca seus próprios interesses”, é desinteressado, puro e genuíno. O amor Ágape não esmorece, mas é constante e permanece forte até às últimas consequências, é um tipo de amor invencível, capaz de amar o mais indigno dos homens; por isso é chamado de o amor de Deus.

Assim, o amor Ágape não é apenas um mero sentimento ou emoção, mas uma entrega voluntária e pessoal que conduz a plena submissão e dedicação. Na aplicação cristã, pode-se dizer que o amor Ágape tem origem no próprio amor de Deus, um amor santo e sacrifical.

 

Conclusão

Cada um desses tipos de amor tem seu lugar e pode ser experimentado em diferentes momentos e com diferentes pessoas em nossas vidas. Compreender esses diferentes tipos de amor pode nos ajudar a entender melhor nossos próprios sentimentos e as relações que temos com os outros.