googlefc.controlledMessagingFunction Desvendando as Heresias: Uma Viagem pela Teologia da Igreja Primitiva

Desvendando as Heresias: Uma Viagem pela Teologia da Igreja Primitiva


 
Subsídio para a Escola Bíblica - Primeiro trimestre de 2025.

Neste artigo de apologética, abordamos as principais heresias que desafiaram a Igreja Primitiva, incluindo Gnosticismo, Docetismo, Marcionismo, Montanismo, Arianismo, Novacianismo e Pelagianismo. Exploramos as origens, os principais proponentes e as ideias centrais dessas doutrinas, além de discutir as respostas apologéticas que foram desenvolvidas para defender a ortodoxia cristã. Esta aula fornece uma visão abrangente sobre os desafios teológicos enfrentados pelos primeiros cristãos e a importância da defesa da fé. Os Apóstolos e o Apóstolo Paulo enfrentaram várias heresias em sua época. Vou apresentar as sete principais e seus proponentes, e um resumo das ideias de cada uma. 

1. Gnosticismo

Proponente: Valentim 

Ideia: Acreditava que o mundo material era criado por um Demiurgo inferior e que o verdadeiro Deus era espiritual e transcendente. A salvação era alcançada através do conhecimento secreto (gnose).

Valentim, também conhecido como Valentino, foi um filósofo e teólogo gnóstico do século II d.C. Ele nasceu no Egito e foi educado em Alexandria, uma importante metrópole do início do cristianismo. Valentim se estabeleceu em Roma durante o pontificado do Papa Higino e ensinou por mais de 20 anos nesta cidade. Ele é conhecido por fundar o colégio de iniciados chamados valentinianos, uma das escolas gnósticas mais influentes da época.

Valentim acreditava em um sistema de dualismo religioso, onde havia deidades rivais representando forças evolutivas e involutivas da natureza.

Evolutivas: Relacionadas ao processo de evolução ou desenvolvimento progressivo.

Contexto: A palavra "evolutiva" é usada para descrever fenômenos, processos ou mudanças que avançam, melhoram ou se tornam mais complexos ao longo do tempo. 

Involutivas: Relacionadas ao processo de involução ou regressão, caracterizado por um retorno a um estado anterior ou menos desenvolvido.

Contexto: "Involutiva" é usada para descrever fenômenos, processos ou mudanças que regridem, diminuem ou simplificam ao longo do tempo. 

Valentim ensinava que a salvação era alcançada através do conhecimento esotérico (gnose) e que as almas humanas estavam encarceradas no mundo material criado por um Demiurgo inferior.

Valentim também afirmava que Jesus Cristo se uniu com o Cristo Interno para trazer o conhecimento redentor do reino divino à humanidade.

No contexto das crenças de Valentim e do gnosticismo, a ideia de que "Jesus Cristo se uniu com o Cristo Interno" refere-se a uma distinção entre o Jesus histórico e uma entidade divina chamada "Cristo". 

Entendendo a Terminologia:

Jesus Histórico: Refere-se ao homem Jesus de Nazaré, que viveu na Terra.

Cristo Interno: Em termos gnósticos, representa uma entidade ou princípio divino que preexistia antes da encarnação de Jesus. Este "Cristo" é visto como um emissário divino enviado para trazer conhecimento espiritual (gnose) aos seres humanos.

União Mística: Valentim e seus seguidores acreditavam que, no momento do batismo de Jesus, o Cristo divino se uniu a Jesus. Essa união permitiu que Jesus, como portador do Cristo, trouxesse o conhecimento redentor e revelasse os mistérios do reino divino à humanidade. 

O Propósito dessa união mística era trazer o Conhecimento Redentor (Gnose): A união tinha como objetivo transmitir ensinamentos espirituais profundos que libertariam a humanidade da ignorância e da escravidão do mundo material, possibilitando a reconexão com o verdadeiro Deus supremo.

Esse conceito é bastante diferente da teologia cristã tradicional, que vê Jesus Cristo como uma única e indivisível pessoa que é simultaneamente totalmente divina e totalmente humana. 

2. Docetismo

Proponente: Cerinto 

Ideia: Afirmava que Jesus Cristo apenas parecia ter um corpo físico, mas na verdade era puramente espiritual. Isso negava a encarnação de Cristo.

Cerinto foi um dos primeiros líderes do gnosticismo, nascido por volta do século I em Antioquia. Ele fundou uma escola gnóstica na província romana da Ásia e teve muitos discípulos. Cerinto é conhecido por suas interpretações controversas sobre Jesus Cristo e o cristianismo, que foram consideradas heréticas pelos primeiros cristãos. 

Ele ensinava que Jesus era um homem comum e que o "Espírito de Cristo" veio a Ele no momento do batismo, guiando-o durante todo o ministério, mas abandonando-o antes da crucificação. Cerinto também rejeitava a divindade de Jesus e acreditava que o mundo físico foi criado por um Demiurgo, não pelo Deus Supremo. 

Docetismo: Definição e Etimologia

Docetismo é uma heresia cristã que emergiu nos primeiros séculos da Era Comum, sustentando que Jesus Cristo não tinha um corpo físico real, mas apenas uma aparência ou ilusão de um corpo físico. 

Etimologia:

A palavra "docetismo" vem do grego δοκεῖν (dokein), que significa "parecer" ou "parecer ser". Esse termo é derivado do verbo δοκέω (dokéō), que significa "parecer", "pensar" ou "imaginar".

De acordo com essa crença Jesus Cristo apenas parecia ser humano e não possuía um corpo físico real. Segundo essa doutrina, a encarnação e os sofrimentos de Cristo na cruz não foram reais, mas apenas aparentes. 

Contexto: Os docetistas afirmavam que a matéria e o corpo físico eram corruptos e indignos de abrigar o divino. Dessa forma, eles negavam a verdadeira humanidade de Jesus, acreditando que Ele era puramente espiritual e que sua presença física era uma ilusão. 

Essa heresia foi amplamente rejeitada pela Igreja Primitiva, que afirmava a plena humanidade e divindade de Jesus Cristo, conforme estabelecido nos credos cristãos e defendido pelos Padres da Igreja. 

3. Marcionismo

Proponente: Marcion de Sinope

O termo "marcionismo" é derivado do nome de seu proponente, Marcion de Sinope. Este nome foi latinizado e tornou-se a base para designar a doutrina e o movimento associados às suas ideias. 

Ideia: Propunha uma distinção radical entre o Deus do Antigo Testamento (Deus do julgamento) e o Deus do Novo Testamento (Deus do amor).

Marcion rejeitava o Antigo Testamento e ensinava que Jesus era uma figura intermediária entre o Criador e a humanidade.

Marcion de Sinope foi um dos mais proeminentes heresiarcas do cristianismo primitivo. Ele nasceu por volta de 85 d.C. na cidade de Sinope, na província romana do Ponto (atualmente na Turquia). Marcion foi inicialmente um bispo, mas foi excomungado devido a suas visões teológicas controversas. 

Ele viajou para Roma em 142-143 d.C. e desenvolveu um sistema teológico conhecido como marcionismo, que propunha uma distinção radical entre o Deus do Antigo Testamento (Deus do julgamento) e o Deus do Novo Testamento (Deus do amor).

Marcion também organizou seus seguidores em uma comunidade separada e fez uma significativa doação de 200.000 sestércios para a Igreja, que foi devolvida após sua excomunhão. Ele continuou a propagar suas ideias na Ásia Menor até sua morte por volta de 160 d.C. 

4. Montanismo

Proponente: Montano 

Ideia: Ensinava que a inspiração profética continuava na Igreja e que os membros deveriam buscar experiências místicas e proféticas.

Era caracterizado por práticas ascéticas extremas e ênfase na revelação contínua.

Montano foi o fundador do movimento cristão conhecido como Montanismo, que surgiu por volta de 156-157 d.C. na região da Frígia, na Ásia Menor (atualmente parte da Turquia). Ele alegava ser um profeta inspirado pelo Espírito Santo e afirmava que o Parácleto (Espírito Santo) já havia sido revelado através dele. 

Montano e suas seguidoras, Priscila e Maximila, pregavam que o Espírito Santo continuava a revelar novas mensagens e que a era apocalíptica estava iminente. Eles enfatizavam um rigoroso ascetismo, exigindo jejuns prolongados, abstinência de prazeres terrenos e uma vida de santidade extrema.

Práticas ascéticas referem-se a disciplinas e hábitos rigorosos que visam a auto-disciplina, a abstinência e o controle dos desejos corporais e prazeres mundanos. 

5. Arianismo

Proponente: Ário 

Ideia: Afirmava que Jesus Cristo não era coeterno com Deus Pai, mas uma criação divina. Isso desafiava a doutrina da Trindade e a divindade plena de Jesus.

Ário, também conhecido como Ário de Alexandria, foi um presbítero cristão no Egito durante o século IV d.C. Ele é mais conhecido por ser o proponente da heresia que leva seu nome: arianismo, que desafiou a doutrina da Trindade da Igreja Primitiva. 

O que Ário ensinava?

Ário argumentava que Jesus Cristo não era coeterno com Deus Pai e que ele foi criado por Deus, ao invés de ser uma parte da mesma substância divina. Isso significava que, segundo Ário, Jesus não era igual a Deus Pai, mas sim uma criação divina superior a todos os outros seres, exceto o Pai. Ele acreditava que Jesus era um ser divino, mas subordinado a Deus Pai. 

Impacto do Arianismo

Essa visão gerou intensos debates e conflitos dentro da Igreja, levando ao Primeiro Concílio de Niceia em 325 d.C., convocado pelo imperador Constantino. O concílio condenou o arianismo e afirmou a consubstancialidade de Jesus com Deus Pai, afirmando que Jesus compartilha a mesma substância que Deus. 

6. Novacianismo

Proponente: Novaciano 

Ideia: Ensinava que a Igreja deveria ser composta apenas por membros perfeitos e que os pecadores não podiam ser readmitidos após a penitência.

Isso levou a uma divisão sobre a questão da penitência e da comunhão.

Novaciano foi um padre romano que viveu no século III d.C. Ele se opôs à eleição do Papa Cornélio em 251 d.C., alegando que Cornélio era muito permissivo ao aceitar cristãos arrependidos que haviam renegado sua fé durante a perseguição de Décio. Novaciano acreditava que esses cristãos, conhecidos como (lapsi Renunciadores/caídos), não deveriam ser readmitidos na comunhão da Igreja. 

No contexto da história cristã, especialmente durante os primeiros séculos do cristianismo, lapsi foi um termo latino que se referiu aos cristãos que renunciaram sua fé durante períodos de perseguição, mas depois queriam ser readmitidos na Igreja.

Perseguições Romanas: Durante os séculos II e III, o Império Romano conduziu várias perseguições contra os cristãos. Muitos foram torturados e executados, enquanto outros, para evitar punições, negaram sua fé, ofereceram sacrifícios aos deuses romanos ou entregaram escrituras sagradas.

Renúncia e Arrependimento: Após as perseguições, alguns dos que haviam renunciado (lapsi) se arrependeram e desejavam voltar à comunidade cristã. A questão de como tratar esses lapsi gerou grandes debates dentro da Igreja. 

Tipos de Lapsi:

Sacrificati: Aqueles que sacrificaram aos deuses pagãos.

Thurificati: Aqueles que queimaram incenso em honra aos deuses pagãos.

Libellatici: Aqueles que obtiveram um certificado (libellus) atestando que haviam sacrificado (mesmo que não tivessem feito isso de fato). 

A palavra libellus é um termo latino que pode ser traduzido como "pequeno livro" ou "livreto". No contexto das perseguições aos cristãos na Roma Antiga, um libellus era um documento ou certificado oficial que atestava que uma pessoa havia realizado sacrifícios aos deuses pagãos, conforme exigido pelas autoridades romanas. Esses certificados eram utilizados para demonstrar a lealdade religiosa dos cidadãos ao Império Romano e evitar punições por práticas religiosas proibidas. 

Divergências: A readmissão dos lapsi causou controvérsia significativa. Alguns líderes da Igreja, como o Papa Cornélio, defendiam a reintegração após um período de penitência. Outros, como Novaciano, argumentavam que a Igreja deveria ser composta apenas por membros que nunca tivessem renunciado à fé, o que levou à criação do movimento novaciano.  

7. Pelagianismo

Proponente: Pelágio 

Ideia: Acreditava que a humanidade poderia alcançar a salvação apenas através de seus próprios esforços e sem a necessidade da graça divina. Isso negava a doutrina da predestinação e da graça irresistível.

Pelágio, também conhecido como Pelágio da Bretanha, foi um monge britânico que viveu entre os séculos IV e V d.C. Ele é mais conhecido por formular a doutrina teológica chamada pelagianismo, que foi condenada como heresia pela Igreja. 

O que Pelágio ensinava?

Pelágio negava a doutrina do pecado original e a necessidade da graça divina para a salvação. Ele acreditava que os seres humanos nasciam em uma condição moralmente neutra e que tinham a capacidade de viver uma vida sem pecado através do livre-arbítrio. Segundo Pelágio, a queda de Adão afetou apenas Adão e não transmitiu uma natureza pecaminosa à humanidade. Ele ensinava que a salvação era alcançada através dos próprios esforços e boas obras dos indivíduos, sem a necessidade da graça divina. 

Conflito com Agostinho

Pelágio foi fortemente contestado por Agostinho de Hipona, que defendia a doutrina da graça irresistível e a necessidade da graça divina para a salvação. O conflito entre Pelágio e Agostinho levou a uma série de debates e concílios eclesiásticos, culminando na condenação do pelagianismo pelo Primeiro Concílio de Éfeso em 431 d.C. 

Essas heresias representavam desafios significativos para a Igreja Primitiva e levaram os apóstolos e Paulo a defender a doutrina cristã e a unidade da Igreja. Se precisar de mais detalhes sobre alguma dessas heresias, estou aqui para ajudar!

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