INTRODUÇÃO
Nesta lição, veremos três tipos
de manifestações do amor:
I. O AMOR
MANIFESTADO NA COMUNHÃO CRISTÃ (Phileo)
II. O AMOR COMO
MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA (Agápe)
III. A
MANIFESTAÇÃO DO AMOR NA SOLIDARIEDADE CRISTÃ (Storgē)
Phileo – Amor fraterno na comunhão
Agápe – Amor gracioso e sacrificial
Storgē – Amor solidário e familiar
E como o amor de Deus se
manifesta numa igreja genuinamente cristã. Ele capacita a Igreja a enxergar
os mais necessitados e a buscar caminhos para que suas carências sejam
atendidas. Esse amor, contudo, não é um mero sentimento humano. Ele é a expressão máxima da
graça de Deus que foi derramada abundantemente nos corações daqueles que creem
em Jesus. Somente através do amor de Deus (agápe) o cristão aprende a
ser solidário e generoso com aqueles que precisam ter suas necessidades
supridas.
Objetivos da Lição:
Compreender como o
amor se manifesta na comunhão cristã, promovendo a unidade e o crescimento da
igreja;
Reconhecer a graça de
Deus como a fonte do amor cristão;
Incentivar a prática
da solidariedade cristã como expressão do amor.
Palavra-Chave: AMOR
TEXTO ÁUREO
“E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.” (At 4.32).
Grego Koiné
(Atos 4:32
Τοῦ δὲ πλήθους τῶν πιστευσάντων ἦν καρδία μία καὶ ψυχὴ μία, καὶ οὐδεὶς ἔλεγεν
ἴδιον εἶναι τι ἃ ἐκράτει, ἀλλʼ ἦν αὐτοῖς ἅπαντα κοινά.
Transliteração:
Tou de plēthous tōn pisteusantōn ēn kardia mia kai psychē mia, kai oudeis elegen idion einai ti ha ekratei, all’ ēn autois hapanta koina.
Destacando e explicando
as Palavras-Chave do TEXTO ÁUREO.
A comunidade cristã de Atos 4:32 é descrita com profunda unidade
espiritual e afetiva, as expressões gregas mostram essa realidade:
- A
palavra μία (“uma”) aparece
duas vezes, qualificada por καρδία (“coração”) e ψυχὴ
(“alma”). Isso revela que os crentes compartilhavam não apenas doutrina,
mas sentimentos, propósitos e intenções.
- O uso de μία enfatiza uma unidade
completa e indissolúvel, onde não havia divisões internas ou
fragmentações.
- As expressões Καὶ καρδία μία καὶ ψυχὴ μία (kai kardia mia kai psychē mia) indicam que havia um só coração e uma só alma entre os que criam.
No hebraico, isso ecoaria o conceito de “lev echad” — uma
comunhão tão profunda que o povo age, sente e vive como um só ser.
Por fim, a palavra κοινά (“comum”)
traduz uma vivência prática dessa unidade. Tudo era compartilhado — bens,
tempo, cuidado, fé.
O termo κοινά (“comum”) expressa
não só o desapego material, mas uma solidariedade ativa, onde cada
necessidade era vista como responsabilidade coletiva.
O TEXTO ÁUREO não está falando só de generosidade ou amizade, mas de uma comunhão radical, em que as barreiras entre "meu" e "teu" são dissolvidas em favor de um “nosso” que nasce do Espírito.
Esse versículo foi originalmente escrito em grego koiné, e não possui versão hebraica bíblica, já que o Novo Testamento foi todo composto em grego. Mas, para fins de estudo e curiosidade, vamos usar o texto da Bíblia hebraica Stugartensia e destacar o termo “echad”, “um”.
Hebraico Bíblico
(Texto adaptado)
Vayehi lev echad ve-nefesh achat la-rabah min-ha-maaminim, ve-lo amar ish ki ha-davar asher lo hu shelo, ella kol-ha-devarim hayu shutafim beineihem.
Hebraico Bíblico (Bíblia Hebraica Stuttgartensia (BHS)
Significado Básico de Echad
Echad significa
“um” ou “único”.
É um numeral, mas também carrega significados de unidade, singularidade, e até mesmo pluralidade em harmonia, dependendo do contexto.
Exemplos Bíblicos
Versículo |
Uso de "Echad" |
Significado |
Gênesis 2:24 |
“serão uma só carne (בָּשָׂר אֶחָד)” |
Unidade relacional |
Deuteronômio 6:4 |
“Ouve, Israel... o Senhor é um (יְהוָה
אֶחָד)” |
Singularidade divina |
Êxodo 26:6 |
“será um tabernáculo (הַמִּשְׁכָּן
אֶחָד)” |
Integração de partes |
Unidade Composta
Curiosamente, "echad" pode às vezes se referir a uma unidade composta — como um grupo agindo com um só coração, como no versículo do TEXTO ÁUREO Atos 4:32. Aqui em (Atos 4:32) nós vemos uma Multidão com “lev echad” (um só coração): união espiritual e intencional.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Atos 4.32-37.
32 — E era um o coração e a
alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía
era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.
33 — E os apóstolos davam, com
grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia
abundante graça.
34 — Não havia, pois, entre
eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas,
vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o depositavam aos pés dos
apóstolos.
35 — E repartia-se a cada um,
segundo a necessidade que cada um tinha.
36 — Então, José, cognominado,
pelos apóstolos, Barnabé (que, traduzido, é Filho da Consolação), levita,
natural de Chipre,
37 — Possuindo uma herdade,
vendeu-a, e trouxe o preço, e o depositou aos pés dos apóstolos.
I. O AMOR
MANIFESTADO NA COMUNHÃO CRISTÃ
1. O crescimento
da Igreja Cristã. Nesse ponto de sua narrativa, Lucas se refere
à igreja como a “multidão dos que criam” (v.32). Essa expressão pode ser entendida com o sentido de um
“grande número” ou “assembleia”. A Igreja que havia começado com 120
discípulos, agora é uma grande multidão.
Uma igreja pequena possui a mesma
natureza e essência de uma igreja grande. Assim como uma igreja grande, uma
pequena também enfrenta seus problemas e desafios. Contudo, os desafios e problemas de um grande povo
são maiores em proporção em relação a uma pequena. Eles se tornam mais
complexos e, portanto, mais desafiadores.
NOTA: Três
pontos principais sobre o crescimento da Igreja
1. Expansão
significativa da Igreja
A expressão “multidão dos que criam” destaca como a Igreja passou de um grupo
pequeno de 120 discípulos para uma grande assembleia de fiéis, evidenciando seu
rápido crescimento.
2. Unidade na
essência, independentemente do tamanho
Tanto igrejas pequenas quanto grandes compartilham da mesma natureza espiritual
e propósito, mesmo que tenham estruturas e alcances diferentes.
3. Desafios
proporcionais ao crescimento
Com o aumento numérico da comunidade, os problemas também se tornam mais
complexos e exigem soluções mais elaboradas, devido à diversidade e magnitude
da Igreja maior.
2. Os desafios do crescimento. Assim, vemos a Igreja de Jerusalém crescer em escala geométrica. Ela se multiplicava (At 6.7) e com isso os desafios também eram maiores. Como essa igreja, que até pouco tempo não passava de um pequeno número, se comportaria com o novo formato adquirido? Ela manteria a unidade em meio à complexidade? Somente o amor poderia manter o elo fraterno entre os crentes. De fato, Paulo dirá que o “amor de Deus” foi derramado nos corações dos crentes pelo Espírito Santo (Rm 5.5); aos colossenses, o apóstolo dos gentios disse que o amor “é o vínculo da perfeição” (Cl 3.14). Somente através do amor cristão a igreja pode manter-se unida. Quando uma igreja se fragmenta e se divide, isso significa que o egoísmo tomou o lugar do amor em algum ponto.
NOTA:
Três pontos principais da reflexão sobre o crescimento e os desafios da
Igreja de Jerusalém:
1.
Crescimento exponencial e seus desafios
A igreja passou por uma
multiplicação rápida, conforme Atos 6.7. Esse crescimento trouxe novas
complexidades e exigiu uma adaptação na forma de lidar com a estrutura e com as
relações entre os irmãos.
2.
Amor como fundamento da unidade
A manutenção da comunhão em meio à diversidade só foi possível pelo amor
cristão. Como ensinam
Romanos 5.5 e Colossenses 3.14, o amor derramado pelo Espírito Santo é o elo
perfeito que sustenta os laços entre os crentes.
3.
Perigo da fragmentação pela falta de amor
Quando há divisão na Igreja, isso sinaliza que o amor foi substituído pelo
egoísmo. A fragmentação não é apenas estrutural, mas espiritual, revelando a
necessidade de retornar ao verdadeiro vínculo da perfeição.
3. A vida
interior. A expressão “era
um o coração e a alma da multidão” (At 4.32) mostra a essência da
igreja, revelando sua união interna. O Espírito Santo capacitou
poderosamente os cristãos para cumprir a missão fora da igreja (At 1.8), para a
tarefa do evangelismo (At 4.31,33; 8.6,7), mantendo os crentes unidos
internamente.
NOTA:
“Μία” enfatiza uma unidade completa e indissolúvel,
onde não havia divisões internas ou fragmentações.
"Echad" pode às vezes se referir a uma unidade composta — como um grupo agindo com um só coração.
SINOPSE I
A união e o amor entre os cristãos, impulsionados pelo Espírito Santo, fortalecem a Igreja e sua missão.
II. O AMOR COMO
MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA
1. A graça como manifestação do Espírito. O melhor ambiente para a manifestação dos dons do Espírito é em uma igreja onde o amor de Deus está presente. Lucas nos informa que “os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus” (At 4.33). O contexto nos mostra que o Espírito opera em um ambiente que lhe é propício, isto é, onde a igreja está cheia do amor cristão. Muitos podem cair na tentação de achar que o segredo para ter uma igreja imersa no Espírito onde os dons espirituais se manifestam com regularidade, tem a ver com cumprir determinadas regras e normas estabelecidas. Regras são importantes e não podemos viver sem elas. Contudo, o Espírito opera no ambiente onde há comunhão entre os irmãos. Às vezes, podemos quebrar a comunhão com os outros, achando que não tem importância, mas Jesus ensina que, para ser perdoado por Deus, devemos perdoar sinceramente nossos irmãos (Mt 6.15; 18.35). Qualquer ensino contrário a isso é falso.
NOTA:
O valor da comunhão e do perdão segundo Jesus
Jesus ensina que o perdão
não é opcional para quem deseja viver em plena comunhão
com Deus. Em Mateus 6.15, Ele afirma:
“Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai
vos não perdoará as vossas ofensas.” Ou seja, a disposição para
perdoar está diretamente ligada à nossa própria experiência do perdão divino.
Quebrar
a comunhão tem implicações espirituais
Às vezes, por mágoa ou orgulho, rompemos a comunhão com alguém, achando que
isso não afeta nossa vida espiritual. No entanto, Jesus mostra que nossa relação com Deus está ligada
à forma como tratamos os outros. Um coração endurecido pelo
ressentimento impede a atuação plena do
Espírito Santo.
O
perdão verdadeiro é sinal de maturidade cristã
Em Mateus 18.35, Jesus enfatiza que devemos
perdoar “de coração”, e não apenas de forma superficial. Qualquer
ensino que rejeita essa verdade — que tenta justificar mágoas ou divisões —
contradiz diretamente o Evangelho.
O resumo de Mateus 18.35 é: Perdoar de coração é essencial, porque quem foi alcançado
pela misericórdia de Deus deve viver essa mesma graça com os outros — o perdão
é o reflexo do amor divino em nós.
NOTA: No ensino do Novo Testamento, graça de Deus é entendida como o favor imerecido que Deus concede ao ser humano. É por meio da graça que somos salvos, justificados e capacitados a viver uma vida cristã.
“Porque pela
graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” — Efésios 2.8 (ARC)
“Sendo
justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo
Jesus.” — Romanos 3.24 (ARC)
A graça não é uma recompensa por obras humanas, mas um
presente divino que revela o amor e a misericórdia de Deus. Ela é a
base da salvação, da comunhão com Deus e da vida espiritual do crente.
Etimologia do
Termo “Graça”
- Latim: gratia — significa “favor”,
“benevolência”.
- Grego: χάρις (charis) — aparece mais de 150 vezes no Novo Testamento e carrega os sentidos de:
- Favor
imerecido concedido livremente
- Bondade
que gera alegria
- Presente
ou dom gratuito
- Beleza
e amabilidade
No contexto bíblico, charis expressa a ação generosa de Deus em favor do ser humano, especialmente através de Cristo. É uma palavra rica, que também aparece em expressões como “dom da graça” (charisma) e “graça abundante”.
SINOPSE II
A graça de Deus se revela no amor cristão,
capacitando os crentes a viverem equilibradamente entre a comunhão e a prática
dos dons espirituais.
III. A
MANIFESTAÇÃO DO AMOR NA SOLIDARIEDADE CRISTÃ
1. A busca pela
equidade. O Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa conceitua “equidade” como a “disposição de
reconhecer igualmente o direito de cada um”. Assim, diferentemente da igualdade, a equidade não enxerga as pessoas como sendo
todas iguais e, por isso, busca formas de ajustar o desequilíbrio entre elas.
Em Jerusalém não havia um nivelamento social, nem todos possuíam as mesmas
condições. Havia pessoas ricas e havia pobres também. Estes, geralmente, em
maior número. Logo, a
igreja demonstrou ser sensível a essa realidade, procurando tratar dessa
situação (At 4.34), sendo solidária com a situação dos menos favorecidos.
2. Propriedade e
compartilhamento. Estudiosos observam que a igreja de Jerusalém vivia uma
comunidade de compartilhamento, não de domínio. Os
crentes mantinham a propriedade de seus bens, mas os disponibilizavam conforme
a necessidade de cada um. Desse modo, eles
compartilhavam tudo o que tinham. Isso pode ser observado com Maria, mãe de João Marcos. Ela também pertencia à
igreja de Jerusalém e em vez de vender sua casa, a
pôs a serviço da igreja, transformando-a em uma casa de oração onde a igreja se
reunia (At 12.12). A prática da generosidade pode mudar de acordo com o
tempo, lugar e circunstâncias; contudo, o princípio que a governa permanece o
mesmo. Podemos fazer o bem a quem necessita de uma forma ou de outra.
3. Um exemplo da voluntariedade. Lucas destaca que “os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos” (At 4.34). Nada aqui foi feito de forma obrigatória. Ninguém contribuiu porque foi constrangido a isso. O texto bíblico deixa claro que havia voluntariedade nos crentes em ajudar uns aos outros. Havia uma consciência de pertencimento e, por isso, ninguém deseja ver o outro excluído. Isso era a manifestação do grande amor de Deus derramado nos corações daqueles crentes.
SINOPSE III
O amor se expressa na prática da solidariedade,
onde os cristãos cuidam dos necessitados e buscam a equidade na comunidade.
VERDADE PRÁTICA
O amor é o elo que mantém a unidade da igreja local. Sem o amor, não existe relacionamento cristão saudável.
Aplicação: Que o exemplo da Igreja de Jerusalém nos inspire a cultivar um amor genuíno e prático, manifestando a graça de Deus em nossas ações diárias. Que a solidariedade e a comunhão sejam marcas distintivas de nossa igreja local.
CONCLUSÃO
Chegamos à conclusão de mais uma lição bíblica. Vimos como o amor de Deus, derramado nos corações da Primeira Igreja, mobilizou os crentes a socorrer os mais necessitados. Isso aconteceu de forma voluntária quando cada um, de acordo com suas posses, se prontificava a dar do que lhe pertencia. Não há igreja cristã verdadeira sem essa identificação com o outro. Ninguém pode fechar os olhos diante da necessidade alheia e se autointitular de cristão. O verdadeiro amor se realiza no atendimento da necessidade do próximo.
REVISANDO O CONTEÚDO
1. Como o evangelista Lucas se
refere à igreja?
Lucas se refere à igreja como a “multidão dos que criam”.
2. O que a expressão “era um o
coração e a alma” mostra?
A expressão “um coração e alma” mostra a igreja em sua essência, revelando sua união interna.
3. De acordo a lição, qual é o
melhor ambiente para a manifestação dos dons do Espírito?
De acordo com a lição, o melhor ambiente para a manifestação dos dons do Espírito é em uma igreja onde o amor de Deus está presente.
4. O que a equidade busca
fazer?
A equidade busca ajustar o desequilíbrio entre as pessoas, reconhecendo igualmente o direito de cada um, diferentemente da igualdade.
5. O que o texto bíblico deixa
claro em relação aos crentes de Atos 4?
O texto bíblico deixa claro que havia voluntariedade nos crentes em
ajudar uns aos outros.